quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Melô do meio

Sobre retalhos e rasgos mal curados não sei mais do que o comum de se saber.
Conheço os aborrecimentos normais de uma vida medianamente vivida, de um ritmo quase regularmente sentido. 
Conheço os medos relativamente paralisantes que insistem em deixar sempre em alerta a autopunição.
Sinto o gosto meio amargo de uma vida quase bem vivida, de um sorriso quase bem sorrido, de uma felicidade quase descoberta.
Um vale inconscientemente poderoso deixa tudo assim meio cinza, meio sem graça. Meio vivo.  É um gosto aos poucos, pelas metades, pelas beiras, sem ápice ou final. É tudo meio, sem conclusão, sem inteiros, sem permissão.
Um começo meio torto, sempre se arrastando para não ser mais que o meio. Nem chega e nem se vai. Um talvez pela metade, um meio sim e um meio não. Tão parado ou monótono quanto uma existência sem sal, perdida entre os quatro cantos da vida.
Agregados e desagregados, aos passos pequenos e lentos que a vida dá longe dos sorrisos e dos agrados, dos abraços, dos pedidos e das despedidas. Nada se pede, nada se clama, nada se quer. Não há nada a mais que pouco. Um pouco pela metade.

É tudo meio pesar, que tento imaginar o que seria uma vida inteira, sem pedaços, sem partes ou lugares, sem retalhos ou trechos, sem menos que o meio. Sem meia estrada. Assim, meio parada. Em vão. Paro no primeiro sinal, na contramão. Desço, esqueço-me de tudo que ainda poderia viver. Concentro-me nessa meia vida que, cansada de ser tão metade, naufraga em poucas palavras, poucas lágrimas e poucas bocas. Assim, como um meio sem fim.  

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