terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Minguante

E ela que dança
Constela
Incompleta

Sua boca reverbera

partes sem fim
verdades etéreas

Cheia

À volta dela
certo brilho insensato
círculo ecoante
à prende à imensidão
não deixa cair em nós
o desespero

Embaixo dela
a irrelevância noir
do seu pedido cálido
beijarás em fogo pálido
prometerás dela lembrar
sela minha promessa curta
luz especular

Crescente

Mina de rochedos
Ao longe
parece arranhar

Caio em seus despovoados relevos
Mutante gélida
Veste-se em um quarto escuro
Onde despe a finura de seus tecidos áridos
para cobrir-se em fogo-fátuo

Queima-me os olhos
em fatigada beleza

Nova

Parece moça
e parece tímida
recolhe-se toda
no decompor do dia

Parece solta
mas quem sou eu, mínimo grão
a observar seu distante retorno
sua discreta soberania

a estreita margem de sua pelagem fina
anúncio próspero
da perfeita união
sinais da noite
à luz do dia

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Óssea

aí vai
desfilando incólume aos olhares alheios
insinuando-se em pequenos gestos [ninguém viu]
mesmo assim
vai
fazendo tormenta em quase nada
tornando fuligem qualquer pesadelo
medos barrocos lhe assombram
chiaroscuros, antíteses, infortúnios

como alguém que fica
por não saber exatamente o que significa ir
fazer
ser
sentir

ao andar distraída
permanece no mesmo lugar
tentando ser autoguia

parte de trás, verso, negativo
aquilo que se guarda e esquece
olha depois e estranha
parte interna de um corpo
de um poço
ferida

beijo de adeus não dado
singelo incômodo bem camuflado
vai passando pelos caminhos em íntimo anonimato [si]
não sabe se porta algum sentido
[suspeita que não]

la vie en close
mas pelo olho de outro
porque ali só desventura
insipidez
insignificância

faz dolorosos partos da sua dor
sozinha
à qualquer hora
não sente arroubos de saudade
nem gratidão
nem pertencimento
dá cria a pensamentos de estupor
insabor
hipocrisia

tudo vira matéria de absorção
pelas vias osmóticas da superficialidade
capacidade de crer
às vezes com insatisfatória particularidade
frases soltas que não servem a ninguém
[porém]
destilam calcária saliva
da boca-escrita
a voz muda da oca fantasia.