quinta-feira, 24 de março de 2016

Cristina

Correu de saia curta
No meio da ventania
Carne da cor de cortiça
cara de quem se cala
Carrega coisas ocultas
Que não sabe nem usa
Compra coisas cultas
Que não entende nem ousa
Caso ela se case
Com festa, de sapatilha
Branco,véu, grinalda
Carro e comitiva
Coisa cara, benção divina
Cairia ela
no campo das maravilhas?

segunda-feira, 21 de março de 2016

Nox

Poderá ele ser livre?
se à noite
vira
e dorme
abraçado
confortado
[devorado]
com suas dores?



Degradê

Quão poético pode ser
um óculos sobre um livro
o vapor do chá de hibisco
um passo à frente no abismo?



sexta-feira, 11 de março de 2016

Vírus

Respirava ofegante
procurando sopro de vida.
Enchia-se, entretanto, de fumaça.
Pigarreada, engasgada, cristalizada.
Habitas?

sábado, 5 de março de 2016

Anônimo

Põe na ponta do seu verso a sua alma livre
E decanta a sua natureza nos chãos da nossa trilha
Escreve a sua fome
de sentido
E a sua vastidão, aquela da qual definha
Faz dela a sua filha
e dela cuida
até sumir a dúvida
Para que o seu céu não venha a ruir
consumido em demasia
pela indelicadeza dos corpos
pela incapacidade das mentes
que mentem
por não conseguirem sentir.