terça-feira, 2 de setembro de 2014

Do avesso

Empreste-me sua vida,
Eu vivo a sua
Você vive a minha
Trocamos os descompassos,
Os percalços e os gemidos.
Fingimos no escuro
Que não nos conhecemos,
Não nos queremos.
Visto sua pele, sua fantasia.
Confundo-me a respeito de nós
Do que há de mais íntimo e explícito.
Do avesso.
No fim, desfeitos os trejeitos,
Você de volta ao seu eu,
O meu não tem mais volta.
Encontro-me cheia do seu ego
Espelho duplo, turvo.
E agora você está aqui,

Mais do que eu em mim. 

Réquiem

Você segue sozinho,
Daqui consigo ouvir seus passos
Mas parecem leves demais
Consigo ouvir suas vozes
Seus pensamentos
Todas as harmonias, seu ritmado descompasso
Centenas de provas de sua presença imaterial.
Espaços afloram entre suas cicatrizes
Não vejo mais que grandes traumas e pequenas preocupações
Você parece translúcido, quase uma hesitação
Eu vi as flores plantadas no jardim
Mas já estavam mortas.
Tudo aqui cheira a insatisfação
Desilusão, ausência, distância.