segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Eco II

Se as palavras que eu pronuncio
Me dissessem de volta
Os porquês de estarem sendo soltas,
Desconexas da sua realidade,
Naufragadas e encerradas 
Em um copo sujo de veneno:  
Véu que evita a cegueira
Por tanto enxergar.
Se essas mesmas palavras me punissem
Por ser tola, por achar tudo lixo, baixo.
Se essas palavras se fizessem escutar,
Gritando pra mim o que eu devo saber
De verdade, sem fantasismos, em concretude.
Se essas palavras desfizessem o mistério,
Me fazendo ouvir a voz que procuro,
De onde vem?
Se essas palavras cuspissem em mim
Os seus significados, a importância.
Se elas me contassem que incrédula é a vida,
Que árdua são as horas,
Que amargos são os deus que negam as respostas.
Se as palavras que eu pronuncio
Me contassem que a dança não tem norte,
Que o par é contramão,
Que o que entregamos
Uns pros outros é o não.
Se essas mesmas palavras
Me fizessem contorcer
Toda vez que eu as pronuncio,
Talvez eu soubesse 
Que, no fim, tudo é vão.
Se elas me marcassem com suas letras,
Talvez eu pudesse apagá-las
E tentar novas,
Tentar o outro,
Tentar de novo.
Mas as palavras mudas,
Que não refletem em mim
O que penso dizer,
Só reafirmam
Que é (esta)
A voz que eu não consigo escutar.

Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário