quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Nem eu

Vou te cercando pelos poucos espaços do campo minado
Sem você perceber
Da sua vela fraca eu faço luz
e nos seus soluços encontro fonemas
Afino o meu beijo no seu
Quero te ter para lhe dilacerar
Tomar o meu corpo no seu
Colar a sua angústia na minha
Pra que em desespero ou tristeza
Sejamos um só.

Que quero me vingar já sabes
Acordo todos os dias em franca agitação
Te procuro por entre sons de olhares trincados
Sentimentos entrincheirados
Por entre ventanias que levam de volta o que eu achei ter conquistado
Por entre os meus detalhes tão mornos que não os quer para ti
Tomarei teu corpo em pecado
Te fatigarei
Daí você verá loucura, lascívia, maldade e rubor
Verás todo o ódio, o tornado, o transtorno, o indomável
Te cortarei, amor, em mil pedaços
E com alguns deles partirei
Te deixando sem completude, sem junção e sem reposta
Te deixarei em vários cacos
Quero carregar comigo sua alegria
Sua simpatia
Até sua vergonha, se me permitir
Vou levar pra mim o que não te torna mais humano
O que te oprime enquanto gente
O que não te pertence
Não te torna
Não te faz
Levarei comigo as suas negações
Os seus embaraços
Dormirei vestida com os seus retalhos
Vou me transmutar em uma nova versão de nós
Em que sou um pouco de você
Você não mais me reconhecerá
Nem eu.

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