sexta-feira, 6 de março de 2015

Cheiro de planta morta

Permeia-me o corpo com pequenos pecados
E eu lustro a âncora que te puxa para baixo
Noites sem desejo
Sonhos aspirantes
A sensação de sufocamento no meio da confusão é sempre familiar
Você me prendeu com seus braços
Me colocou nos arredores dos seus pensamentos luxuriosos
Disse que era sujo
E que assim era melhor
Eu te recitei versinhos curtos
Para você não se desesperar
Peguei sua mão
Te levei a um lugar diferente
Pedi para você esperar
Nós nos perdemos no meio do caminho
Esqueci você tentando me encontrar
Você me perdeu porque não conseguiu esperar
Você fez certo, porque não há certeza na espera
E a espera não é o benefício da dúvida
É a certeza de que o sim não é absoluto
É o pedido de desencontro
A porta que leva à ausência
A ponte que leva à distância
O tempo que não vale nada
A imagem que você não permite
A proximidade que você impõe
A equidade que se esvai
A minha insegurança, solidão, incapacidade de completar uma metade
A impossibilidade de viver para ser dois, um único número
A sensação de estar caindo
A sensação de estar ouvindo vozes
A presença de uma intromissão
De uma invasão
De um defeito
De uma infrequência
O extravio dos nossos corpos
Na subjetividade que nos enlaça
Vai além disso
Somos um elo torto
Não nos ligamos a nada
Por nada, em nada
Não nos ligamos
E perpetuamos a falta de compromisso
A facilidade da nossa revolta
A tristeza dos nossos dias
As falhas da nossa existência
A pobreza dos nossos espíritos
A essência que nos une
Disso não sobra nada
Não se sobra o que sempre foi resto, inverso
Incesto
Com a sua mãe deslocada
O cuidado que ela não fez, eu não fiz
Eu não dou
Eu não sou
Nós não somos
E por falta demais,
De mais,
Muito mais,
Ficamos assim.

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