segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Fora pouco, o agora

Se agora se agarra
à borda e se nega - 
preso em redenção -
entre as amarras,
perde o tempo que se foi.
Se é água o que fica
Temporária, transitiva,
transitória e que obriga
a jorrar-se pelas sobras,
pelos esquecidos, clementes.
Jorram lágrimas fora,
a saudade que ficou.
Se não tem vez o que vem,
o que vê é nado-morto.
Sem armas, carrega a culpa,
cicatriz desfalecida,
pigarreio de vida.
Sem nada e sem agora,
sem depois e sem bagagem.
Sem o sim de quem espera
o descarrilo da vontade.
Sem desejo e sem esquadro.
Sem métrica, sem marco.
Respira fundo e trepida,
desejando os pés no chão.
Pés descalços, refugiados,
que forjam fuga ao movimento,
não conduzidos pela correnteza,
Presos pela certeza.
O que vai, no entanto,
é contramão, sorte lançada.
É então liberto,
Pelo desejo quase sincero
De se manter  firme em cais de porto.
Desembarca, pois, de dor e solidão.
Levado, depois do sofrimento, ao perdão.
Se joga, nada, ao vento.
Respira insegurança, se fantasia de acaso.
Aceita o incerto.
Ao senhor desiludir, agradece a voz solene.
De lágrimas, navega em mar construído à semelhança.
De punhos abertos saúda,
mudo em sopro surdo,
avisa que é apenas de se entregar
o viver. 

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