sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Útero

Entre os jardins onde enterrei
As várias partes de meu corpo,
A relva fez-se crescer,
Como a rotina tomando vida em tua janela
Fortificando-se com o café de cada manhã
Alimentando-se de tua desnutrição e palidez
Tomando força em tua fraqueza,
acompanhada do chá das três.
Eu, morta em carne.
Tu, viva em osso.
Despedaçando-te, encolhendo-te.
Demitindo-te, dispensando-te de ti
De tua própria presença.
Faço da vida recomeço,
Alimento a terra,
Descansando em paz
coração que outrora sufocou-se de ar.
Morri de excesso de vida,
De exaltação de batimentos,
Sorrisos e soluços.
Metástase de euforia.
Tu vives de morte,
Fazendo desconserto,
Tumor trepidante, febril.
Arrastando-te pelos caminhos,
Esperando abrigos em colos e úteros
Para onde pudesses voltar
A ser ninguém.
À recusa das escolhas
Do ato de existir. 

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