Sobre retalhos
e rasgos mal curados não sei mais do que o comum de se saber.
Conheço os
aborrecimentos normais de uma vida medianamente vivida, de um ritmo quase
regularmente sentido.
Conheço os
medos relativamente paralisantes que insistem em deixar sempre em alerta a
autopunição.
Sinto o gosto
meio amargo de uma vida quase bem vivida, de um sorriso quase bem sorrido, de
uma felicidade quase descoberta.
Um vale
inconscientemente poderoso deixa tudo assim meio cinza, meio sem graça. Meio
vivo. É um gosto aos poucos, pelas
metades, pelas beiras, sem ápice ou final. É tudo meio, sem conclusão, sem
inteiros, sem permissão.
Um começo meio
torto, sempre se arrastando para não ser mais que o meio. Nem chega e nem se
vai. Um talvez pela metade, um meio sim e um meio não. Tão parado ou monótono
quanto uma existência sem sal, perdida entre os quatro cantos da vida.
Agregados e
desagregados, aos passos pequenos e lentos que a vida dá longe dos sorrisos e
dos agrados, dos abraços, dos pedidos e das despedidas. Nada se pede, nada se
clama, nada se quer. Não há nada a mais que pouco. Um pouco pela metade.
É tudo meio
pesar, que tento imaginar o que seria uma vida inteira, sem pedaços, sem partes
ou lugares, sem retalhos ou trechos, sem menos que o meio. Sem meia estrada. Assim,
meio parada. Em vão. Paro no primeiro sinal, na contramão. Desço, esqueço-me de
tudo que ainda poderia viver. Concentro-me nessa meia vida que, cansada de ser
tão metade, naufraga em poucas palavras, poucas lágrimas e poucas bocas. Assim,
como um meio sem fim.
"Meio sorriso, meia lua, toda tarde"
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