Eu gostaria de escrever uma mensagem pra você. Só que na maioria do tempo eu não sei o que dizer. Nem mesmo sei onde os pensamentos estão indo. Gostaria de escrever coisas bonitas, fazer metáforas interessantes, te impressionar, mas não acho que isso não vai ser possível. Porque não sei falar coisas bonitas, planejadas, sonetadas, rimadas. O que digo vem de dentro. Surto do inconsciente, sopro de sinceridade, arrasto de afetos. Parece um pouco de desleixo e loucura às vezes. Versos muito soltos, coisas muito agressivas, impulsivas, violentas. Mas sou só eu tentando me expressar, tentando ser compreensível, não soar como desvairada, dizer o que gostaria de dizer. Estou tentando lhe dar um pouco da minha loucura, da confusão, da vontade, da boa violência, da minha inexatidão. Eu que penso saber onde vou, mas não sei. Você sabe mais. É só sopro. Só vontade. Tentativa de tomar formas. De sair do corpo. Da cabeça. Pela ponta dos dedos. Necessidade de corporificar, fazer real, concreto, presente. Estar aqui. Estar aí. Na esperança de que eu esteja em você. Como você está em mim. Suporte. Apoio. Contenção. Preenchimento. Menos vazio. Menos descarte. Menos tristeza. Mais em nós. Mais tempo. Mais profundo. Mais de nós. Avessos e manejos. Fúrias e desejos. Elos. Espaços. Pedaços. Mas não tem problema. Mesmo que com partes diferentes, com fugas, desfoques, estrofes, apelos e ensejos. Nós ainda estaremos em nós. Trocadas, misturadas, indissociáveis, mutáveis, movendo-nos. Correndo. Em ruas diferentes, com outras determinações, mas ainda dividindo o peso do caminho. Brindando a falta de direção.
*Para D.B.P.
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