Simples surtos de alegria desmedida
Eu não saberia diferenciá-los dos ataques de histeria
Nem dos delírios nervosos que eu tinha quando achava que estava morrendo.
Na verdade eu não estava, só achava que não aguentaria muito tempo o viver só por viver
Não era uma história muito sublime, então eu não contava
Não eram perdizes, mas só ilusões
Não eram crônicas dramáticas, eram só uns hormônios a mais
Hoje não faz mais diferença
Aqueles foram outros dias
Estávamos todos entorpecidos demais por bobagens psicoativas
drogas televisivas, estruturas de corpos em litígio e pensamentos que só corrompiam a si mesmos
Há histórias que apenas merecem serem esquecidas, coisas que nasceram para serem jogadas foras, bordas que não completarão um círculo
Nem todos os amores são para serem vividos
Estamos de costa para esse tipo de abismo no qual muita gente se joga
Eu não saberia medir a perversidade de nos abraçarmos e cairmos juntos
Ou prever o quão estúpidos nos sentiríamos se não o fizéssemos.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Inépcia
Havia um menino. Havia uma pedra. Havia um menino e uma pedra. Havia uma pedra e um menino. O menino chutava a pedra. A pedra, por sua vez, como reação à ação a ela empregada, chutava o menino. Formavam ali, um par. Ora um era o chutante, ora outro era o chutado. Passavam assim a tarde. O menino, enquanto chutava a pedra, pensava na vida e no que aquela pedra estaria pensando. A pedra pensava no porquê de o menino querer chutá-la tantas vezes. Mas, na verdade, eles não sabiam de nada. Não sabiam nem o porquê de estarem ali. Aliás, sabiam de uma coisa, apenas. Sabiam por que eram chutados. Eram chutados porque chutavam. Simples. Simples, mas estranho. O menino poderia parar, a qualquer momento, com aquele ciclo, mas não conseguia. Não conseguia justamente porque era um ciclo. Pedra e menino, menino e pedra. E vice-versa. Enfim, eram dois, um par. Ação e reação. No fim, companheiros. Tão companheiros, que não sabiam mais, depois de tanto tempo ali chutando e sendo chutados, quem era pedra e quem era menino.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Do avesso
Empreste-me sua vida,
Eu vivo a sua
Você vive a minha
Trocamos os descompassos,
Os percalços e os gemidos.
Fingimos no escuro
Que não nos conhecemos,
Não nos queremos.
Visto sua pele, sua fantasia.
Confundo-me a respeito de nós
Do que há de mais íntimo e explícito.
Do avesso.
No fim, desfeitos os trejeitos,
Você de volta ao seu eu,
O meu não tem mais volta.
Encontro-me cheia do seu ego
Espelho duplo, turvo.
E agora você está aqui,
Mais do que eu em mim.
Réquiem
Você segue sozinho,
Daqui consigo ouvir seus passos
Mas parecem leves demais
Consigo ouvir suas vozes
Seus pensamentos
Todas as harmonias, seu ritmado descompasso
Centenas de provas de sua presença imaterial.
Espaços afloram entre suas cicatrizes
Não vejo mais que grandes traumas e pequenas preocupações
Você parece translúcido, quase uma hesitação
Eu vi as flores plantadas no jardim
Mas já estavam mortas.
Tudo aqui cheira a insatisfação
Desilusão, ausência, distância.
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
País das Maravilhas
Um pouco mais de poesia nesta noite escura,
Nesta vida estranha com gosto estranho no final.
Um pouco mais de fantasia pra esquecer desta cidade que
nasceu falida,
Um pouco menos de pés cheios de chão e solidão.
Um pouco menos de drogas evitando a sanidade pra se olhar no
espelho.
Um pouco menos de você aqui para me lembrar de tudo que eu
não sou, pra me sugar tudo que eu não tenho, pra me tirar a força e a razão. Pra
fingir que sua perversão é mais digna que a minha.
Um pouco mais de pés descalços em passeios matutinos sem
culpa ou receio. Sem segredos ou
ameaças.
Um pouco mais de você
sem mim, assim, devagar. Um pouco mais do seu inescrupuloso sorriso e gozo
longe de mim.
Um pouco mais de luzes atrapalhando as sombras das árvores,
as vozes nas casas cortando o silêncio, um pouco mais do cotidiano, rotineiro e banal.
Um pouco mais de vida nesta pulsão de morte, de ilusão neste
poço de realidade, um pouco mais de cogumelos coloridos e gatos falantes.
Um pouco mais de felicidade, mesmo que seja inventada.
terça-feira, 5 de agosto de 2014
You know, you're right
Eu poderia esperar por você
Mas acho que já fiz isso demais
Eu poderia te procurar nestes buracos que você gosta de se esconder
Mas eu não vou me sujar mais
Eu poderia jogar você da ponte
Mas eu não quero te ajudar mais
Você está certo
Está sempre certo
Está tudo certo
Eu só quero te negar ajuda quando você precisar
Eu quero encher os seus bolsos de formol para que você cheire como a morte
Eu quero desestruturar esses seus pensamentos de amor
Porque isso não é amor
Eu queria te esquecer
Mas acho que já fiz isso demais
Você está certo
Está tudo em sua certeza
De que o mundo vai te acolher mais uma vez
Eu poderia até te encolher
Para que você virasse só um retalho nessa confusão
Mas não quero me despedaçar mais
Não tem mais o jeito certo
Apenas o seu jeito
Nós estamos flutuando nessa imensa nuvem negra
Nós estamos viajando no seu avião
E todas as noites ele colide com o nada.
Eu não quero mais de você
Não quero mais ter que ceder
Nem esquecer. Nem tentar.
Mas acho que já fiz isso demais
Eu poderia te procurar nestes buracos que você gosta de se esconder
Mas eu não vou me sujar mais
Eu poderia jogar você da ponte
Mas eu não quero te ajudar mais
Você está certo
Está sempre certo
Está tudo certo
Eu só quero te negar ajuda quando você precisar
Eu quero encher os seus bolsos de formol para que você cheire como a morte
Eu quero desestruturar esses seus pensamentos de amor
Porque isso não é amor
Eu queria te esquecer
Mas acho que já fiz isso demais
Você está certo
Está tudo em sua certeza
De que o mundo vai te acolher mais uma vez
Eu poderia até te encolher
Para que você virasse só um retalho nessa confusão
Mas não quero me despedaçar mais
Não tem mais o jeito certo
Apenas o seu jeito
Nós estamos flutuando nessa imensa nuvem negra
Nós estamos viajando no seu avião
E todas as noites ele colide com o nada.
Eu não quero mais de você
Não quero mais ter que ceder
Nem esquecer. Nem tentar.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Ode à desagregação I
Vista nossas roupas imundas
Vamos comemorar nosso desarranjo
Essa coisa estranha
Todo esse cheiro pútrido de vontades mortas
Variantes idiotas
Em todos estes ângulos destoantes
Nós podemos
Sonhar com a aventuras em vórtices alagados
Vamos fazer sexo sem proteção no telhado
Vamos estraçalhar o que não seguramos
Estejamos prontos para esquecer
Estejamos em ponto de adormecer
Em toda essa lamúria gélida com gosto de desgosto
Passe as mãos pelos meus cabelos
E diga que eu vou sentir coisas diferentes
Que eu vou experimentar mais uma vez o veneno agridoce que me tira desse corpo
Que me atravessa pelos chãos
Por todos os meus nomes
Que vai colocar pontos em minhas palavras sem sentido
Me pegue nos braços
E faça de mim algo melhor que um papel
Faça eu ser
Enquanto descubro como é existir
Faça eu ainda ser
Enquanto eu me deixo esvair
Segure a minha cabeça
E me deixe pensar em coisas obscenas
Sair nua na rua em pelo em selo, transviar, viajar, transgredir, desaparecer
Vamos fingir que somos heróis pós-modernos
Não aceitar subjugação
Não deixar morrer a companhia pela falta de amor
Vamos imaginar que somos até mais do que queríamos ser
Vamos dançar até morrer
Vamos dar as mãos e nos empurrarmos pela escuridão
Vamos nos distorcer
Deixar entorpecer
Entregar nossas sóbrias alegrias
Jogar fora a determinação
E queimar enquanto houver som.
Vamos comemorar nosso desarranjo
Essa coisa estranha
Todo esse cheiro pútrido de vontades mortas
Variantes idiotas
Em todos estes ângulos destoantes
Nós podemos
Sonhar com a aventuras em vórtices alagados
Vamos fazer sexo sem proteção no telhado
Vamos estraçalhar o que não seguramos
Estejamos prontos para esquecer
Estejamos em ponto de adormecer
Em toda essa lamúria gélida com gosto de desgosto
Passe as mãos pelos meus cabelos
E diga que eu vou sentir coisas diferentes
Que eu vou experimentar mais uma vez o veneno agridoce que me tira desse corpo
Que me atravessa pelos chãos
Por todos os meus nomes
Que vai colocar pontos em minhas palavras sem sentido
Me pegue nos braços
E faça de mim algo melhor que um papel
Faça eu ser
Enquanto descubro como é existir
Faça eu ainda ser
Enquanto eu me deixo esvair
Segure a minha cabeça
E me deixe pensar em coisas obscenas
Sair nua na rua em pelo em selo, transviar, viajar, transgredir, desaparecer
Vamos fingir que somos heróis pós-modernos
Não aceitar subjugação
Não deixar morrer a companhia pela falta de amor
Vamos imaginar que somos até mais do que queríamos ser
Vamos dançar até morrer
Vamos dar as mãos e nos empurrarmos pela escuridão
Vamos nos distorcer
Deixar entorpecer
Entregar nossas sóbrias alegrias
Jogar fora a determinação
E queimar enquanto houver som.
domingo, 3 de agosto de 2014
Shift
Estou no escuro mas a luz fria da lua banha meus pés
Ainda não é tempo de ser feliz, isso virá
Por enquanto devo me contentar com os prazeres não imediatos
Com os crimes dos outros
E deixar os sonhos serem corroídos por faíscas de vontade
Então é isso
Ficar aqui e assistir à falta de glória das memórias ausentes?
Acho que não
Eu planejei mais, eu preciso de mais
Uma volta em torno do sol é muito pouco
Não são tantas oportunidades
Não há onde desperdiçar
Não há quasar no qual eu não queira pulsar
Não há feixe de luz no qual eu não queira me incendiar
Não há água na qual eu não queira me afundar
Houveram apenas vislumbres disso
Mas hoje eu ando pela borda
Guardo os desejos incautos na mala
Ligo a minha lanterna para irradiar luz silenciosa
e observo o tremular dos ventos na minha direção.
Ainda não é tempo de ser feliz, isso virá
Por enquanto devo me contentar com os prazeres não imediatos
Com os crimes dos outros
E deixar os sonhos serem corroídos por faíscas de vontade
Então é isso
Ficar aqui e assistir à falta de glória das memórias ausentes?
Acho que não
Eu planejei mais, eu preciso de mais
Uma volta em torno do sol é muito pouco
Não são tantas oportunidades
Não há onde desperdiçar
Não há quasar no qual eu não queira pulsar
Não há feixe de luz no qual eu não queira me incendiar
Não há água na qual eu não queira me afundar
Houveram apenas vislumbres disso
Mas hoje eu ando pela borda
Guardo os desejos incautos na mala
Ligo a minha lanterna para irradiar luz silenciosa
e observo o tremular dos ventos na minha direção.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Sobre o nada
E, de repente, ela se ajoelhou
aos meus pés e começou a chorar. Desesperada, tinha as mãos trêmulas e um medo
estranho de abrir os olhos. Perguntei várias vezes o que havia acontecido,
chamava por seu nome, mas ela se preocupava apenas em chorar e soluçar. Por
fim, depois de horas naquela mesma forma, ela ergueu seu olhar e me perguntou,
numa voz rouca e falha, o porquê da minha displicência. Eu, num tom sereno,
disse que não havia mais nada na vida que pudesse me surpreender. Ela então
olhou com olhos de curiosidade a desconhecida que se construíra na sua frente
durante tantos anos sem que ela percebesse.
- De qualquer maneira, o motivo
que te deixou assim deve ser mais importante do que essa discussão acerca do
que eu sou ou não.
- O que eu mais temia aconteceu.
As mentiras, a sujeira em que eu me meti. E tudo por culpa dele. Julguei que
seria até bom participar de tudo isso, mas e agora? O que é que eu tenho? O que
me restou? – neste momento ela olhou para as mãos vermelhas a procura de alguma
resposta.
- Calma, você não tem motivos
para ficar assim. As suas expectativas só dizem respeito a você.
- Eu não acredito que você está
me dizendo isso. Você tem noção do que ele fez?
- Tenho. Isso fazia parte das
possibilidades e você sabia.
- Mas eu nunca imaginei...! Você
deveria estar do meu lado.
- Eu não tenho lado. Nem partido.
- O que você é? Um ser sem
opinião? Sem julgamentos? Acha que isso te levará a alguma conclusão?
- Isso pode até não me levar a
nada, mas com certeza eu não ficarei igual a você.
- Se não for para ajudar, eu
prefiro que você fique calada, disse ela rispidamente.
- O meu jeito te incomoda e eu
sou a culpada?
- Então é isso que você pensa do
mundo, das pessoas à sua volta? Você acredita em algo? Existe alguma coisa
capaz de te fazer feliz?
- Não sei, estou descobrindo. Por
enquanto, ocupo-me em observar, sentir. Conclusões representam, de certa forma,
o fim. Não me acho capaz o suficiente para decretar o fim de alguma coisa em
minha vida agora.
- E você acha que é assim que se
faz o futuro? Com pessoas como você?
- A sua certeza me inveja. O seu
julgamento também.
- Eu não entendo você. Como quer
melhorar, crescer?
- Eu não posso dizer nada, mas a
propriedade com que você afirma tudo que sabe me inveja. A sua teoria de que
não se deve não se apegar a nada vai totalmente contra a liberdade que você
mesma prega. As pessoas não pertencem umas às outras, elas não tem que,
necessariamente, seguir e apontar algo como verdade absoluta, é muita
prepotência para pouco ser humano. Se você pudesse se observar por um instante,
perceberia que você não passa de uma pequena engrenagem que faz parte de uma
gigante máquina da qual, sequer um dia, tomará conhecimento do funcionamento.
As coisas são mais simples do que parecem. E mais complicadas do que aparentam.
Se olhar com atenção, verá que sou tão contraditória quanto você. Mas não se
assuste, é a nossa essência.
Afastei-me vagarosamente sem
olhar para trás e ela continuou me olhando com olhos espantados, como os de
quem acaba de ser apresentado a alguém anormal. E era exatamente isso que
estava acontecendo.
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