Basta fechar os olhos para
fugir do resto desse mundo. Não há muito que me prenda aqui. É muito fácil
vagar entre os espaços tão bem marcados dessa realidade um tanto questionável.
Não há muito que fazer. Daqui, há pouco o que querer. Sou mais quando me perco.
Sou mais quando me solto por aí em qualquer vaga de garagem reservada a mim.
Reservada ao nada. Reservada à falta de.
Não nasci para ser séria. Não
nasci para ser sempre. Não nasci para seguir piamente. Não nasci para estar
parada. Recebi o sopro de angústia que me permitiu chegar até as próximas
esquinas. Recebi apostas. Falidas. Algumas sim. Outras também. Apostas acerca
do que eu seria, apostas acerca do meu sexo. Recebi possibilidades invariantes.
Possibilidades irrealizáveis. Possibilidades brilhantes. Possibilidades.
Possivelmente. O nome lúdico de uma personagem de desenho animado. O nome do
avesso em seu significado, que faria jus aos sentimentos experimentados em
existência tão categorizada em lacunas. Tão certa de sua irregularidade.
À procura de lembranças e
promessas, sentidos e encaixes, à procura de tudo que acalme e acalente a alma,
seja em sopro, seja em luz ou escuridão. Seja em liberdade ou em exclusão. À procura de você que, estranha como eu, se
perde em meio a esses vãos em labirintos forjados, letras e sonoridades
dispersas. É genuíno esse brinde à falta que temos. É genuíno dar lugar e
acomodar a falta. Antes negando, procurando, antes gritando, antes agindo,
antes lutando. Antes existindo. Subvertendo.
Com você
aprendendo. Cada um existe da maneira que lhe cabe existir. Cada um é da única
maneira que é possível ser.
A mim. A nós.
A você. À sua falta. À falta de. Ao que pulsa aqui. Ao do que tento fugir. Ao
do que não consigo. Ao do que consigo. Ao significado. À falta dele. Ao existir
e todas as suas possibilidades. Aos meus quereres. Aos meus poderes. Aos nossos
sorrisos. À sua saudade.
A mim,
escuridão.
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