Eu saí ali fora
E procurei alguma coisa que não me fizesse mal
Mas eu não achei
Porque quando não é mais do mesmo
É mais do que aguento
É menos do que espero
Mesmo do que tenho
Menos do que quero
Mais do que desejo
Mesmo quando quero
Mesmo quando esqueço
Mesmo quando é do mesmo jeito
Eu ainda queria que fosse diferente
Caí num sono ruim
Aqui dentro é só ruído
Parece um rádio velho esquecido
Ligado pra espantar os fantasmas
Casa velha
Velha insistência
Não posso mais me admitir
Não quero mais concernir
Porque quero um pouco só pra mim
Mesmo que a sensação seja de infinita queda
Que os laços não segurem (que eles não tentem)
(eles não existem)
Ainda que o embaraço seja aterrador
Que a luz não ilumine os cantos
E que o corpo trema inteiro
Que eu precise me esconder
Que precise voltar
Que precise negar
Que não suporte e precise chorar
Não vou deixar de perguntar
A sede de te saber me esvai o espírito
Mina minhas outras procuras
Desmancha a certeza
Mata-me.
Quem é você?
domingo, 28 de junho de 2015
domingo, 14 de junho de 2015
Prazer,
Por entre ruas, jardins e ventos, perfumes
amadeirados, notas musicais e criados-mudos, por entre postes e cetins, certo medo
e uma coragem cega, entre placas e avisos nos portões, entre alto-falantes e autoestima,
entre lençóis e você. Entre nós bem dados, nós desfeitos, bem feitos, apertados
e arrancados, respeitados, entre cafés amargos e bocejos. Anseios, toques e
bufadas. Entre regurgitadas e roupas apertadas. Entre goladas e risadas, tiros
e facadas. Entre o bom e o doce, azedo e queimado. Entre a dor e o desejo,
sarado. Entre vírgulas, o agora e o depois, breves intervalos. Entre pontos finais
e ligações, retomadas e limiares. Entre a consciência e a realidade, entre o
avesso e o começo, entre a leveza e a intensidade. Entre a presença e a
ausência, entre, a porta está aberta. Sente-se. Entre gritos e suspiros,
sussurros e gemidos, entre o toque e a violência. Entre minha vida, meus
mortos, meus caminhos tortos. Entre agora ou cale-se para sempre. Cálice. Pai. Afasta.
Entre vinhos suaves e diabetes, diabo. Diacho. Entre socos e murmúrios, entre
olhares a afagos. Paixões e desesperos. Entre vontades e desejos. Entre cemitérios
e enterros. Entre o não querer. Viver a vida de novo. Discorra. Corra. Fuja. Entre
os caminhos e as decisões, entre as opções. Entre. Em. Colapso. Entre mares e
ares, terra. Fogo, sou feita de. Água. Salgada. Doce. Entre mordidas e marcas,
roxos e choros, cachorros e logros. Latidos. Latinos, meu sangue. Tatuagens,
entre desenhos e lembranças. Entre cheiros e cheiradas. Pó. Entre bulas e
alívios, dores. Entre enganos e ilusões, ataques histéricos de bom humor. Felicidade.
Você. Saudade. Eu, tão grande em tamanha pequenez. Entre sorrisos, risos e
olhares nos olhos, entre ansiedades e inseguranças, entre toques em corações. Prim.
Entre, atenda o telefone. É a minha função no mundo. Entre, comece a contar. Entre
Clarisse e Andrea Doria, Eduardo e Mônica, Ângela e Leila. Entre vozes e
timbres, cantorias e cantarolados, cachos e exigências, cabelos e pouco
tamanho. Entre amigos sinceros e leais. Entre vocês, entre nós. Entre conexões
amazônicas e fronteiras. Entre índios e estrangeiros. Olhos puxados. Pele amarela.
Entre, puxe uma cadeira, traga seu copo e sente-se aqui. Entre, traga-nos uma
bebida. Entre, apague a luz pra que eu possa te sentir melhor. Entre, isto
deixou de ser uma tentativa. Entre, saudade. Entre saudade e o crepúsculo
retardado. Entre a sede, seda e longa caminhada. Entre a perda e a chegada. Entre
a risada e a parada. Entre All of my love, wish you were here. Entre as minhas
flores e os meus espinhos. Entre os dois. Há os dois. Entre enquanto houver sol,
entre tapanacara e Odara. Entre o talvez, people are strange. Entre chás da
meia noite, Christie. Entre sem qualidades e Lolita. Entre, niilistas. Entre Drummonds
e Seixas, entre histórias e o que escrevo. Entre o real e o agora, dólar. Entre
falta de sentidos, morte. Mas, antes disso, Peixe. Laboratório. Sete dias da
semana, letras sete em meus nomes, sete notas musicais, sete cores do arco-íris
nas regiões divinais. Entre o fundo do baú e as poeiras escondidas, entre a
poluição e o adoecimento de uma vida amargurada. Entre ajudas e abraços, braços
e laços. Entre beijos e carícias. Entre, estou presente. Entre, isso eu sei
fazer. Entre ruas e travessões, interrupções. Entre a seriedade e o
compromisso, descontraída. Entre, contraída em si mesma. Entre, sente-se. Prazer.
domingo, 7 de junho de 2015
A mim, escuridão
Basta fechar os olhos para
fugir do resto desse mundo. Não há muito que me prenda aqui. É muito fácil
vagar entre os espaços tão bem marcados dessa realidade um tanto questionável.
Não há muito que fazer. Daqui, há pouco o que querer. Sou mais quando me perco.
Sou mais quando me solto por aí em qualquer vaga de garagem reservada a mim.
Reservada ao nada. Reservada à falta de.
Não nasci para ser séria. Não
nasci para ser sempre. Não nasci para seguir piamente. Não nasci para estar
parada. Recebi o sopro de angústia que me permitiu chegar até as próximas
esquinas. Recebi apostas. Falidas. Algumas sim. Outras também. Apostas acerca
do que eu seria, apostas acerca do meu sexo. Recebi possibilidades invariantes.
Possibilidades irrealizáveis. Possibilidades brilhantes. Possibilidades.
Possivelmente. O nome lúdico de uma personagem de desenho animado. O nome do
avesso em seu significado, que faria jus aos sentimentos experimentados em
existência tão categorizada em lacunas. Tão certa de sua irregularidade.
À procura de lembranças e
promessas, sentidos e encaixes, à procura de tudo que acalme e acalente a alma,
seja em sopro, seja em luz ou escuridão. Seja em liberdade ou em exclusão. À procura de você que, estranha como eu, se
perde em meio a esses vãos em labirintos forjados, letras e sonoridades
dispersas. É genuíno esse brinde à falta que temos. É genuíno dar lugar e
acomodar a falta. Antes negando, procurando, antes gritando, antes agindo,
antes lutando. Antes existindo. Subvertendo.
Com você
aprendendo. Cada um existe da maneira que lhe cabe existir. Cada um é da única
maneira que é possível ser.
A mim. A nós.
A você. À sua falta. À falta de. Ao que pulsa aqui. Ao do que tento fugir. Ao
do que não consigo. Ao do que consigo. Ao significado. À falta dele. Ao existir
e todas as suas possibilidades. Aos meus quereres. Aos meus poderes. Aos nossos
sorrisos. À sua saudade.
A mim,
escuridão.
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