Se o que
sobrou foram palavras mal explicadas em um papel pela metade, ou uma vontade
vibrante de voltar onde a vida transborda, te digo, querido, não há mais volta.
Tudo que ficou pela metade mal contada pelos lábios de quem o queria bem, agora
vive em uma morte terna e tranquila. Como você queria fazer comigo.
Mas se quiser continuar
a partir do momento em que abro o meu sorriso a cada vez que ouço sua voz, peço
que aguarde um minuto até que todas as minhas malas sejam processadas em
programas eficientes, como os que me trouxeram do passado.
Eu pareço
menor agora, mas é apenas efeito do tempo. E das mágoas. E das saudades. Eu pareço
querer mais agora, mas é apenas o fogo instantâneo de uma música bem tocada. Não
me vire as costas se ainda temos tudo para viver. Deixe o passado onde ele deve
estar. Aqui comigo. Cabe tudo. Começo, meio e fim. Cabe você em mim numa bela
lembrança cujo dono eu aconselho você a não encontrar. Feridas mal curadas
ainda podem sangrar quando o espelho grita coisas as quais não estamos
preparados para ouvir.
É apenas um
abraço a mais, um carinho que se encaixa tão perfeitamente agora, que eu não
ousaria recusar. É bom tê-lo por perto. Mesmo com esse seu problema estranho de
não aceitar o que a vida traz. Ou talvez seja apenas uma resistência em
entender que as coisas estão onde deveriam estar, independente da sua
existência.
E não se
preocupe. É estranha mesmo essa dependência de imagens e fantasias que nem se
aproximam da realidade. Em sonho, eu te perdoo e te desejo. Você faz o mesmo,
sem voltar ao passado e sem se irritar comigo. O beijo de boa noite vem em
seguida com o clarear do dia, pois a noite pertence a nós. Um brinde.
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