Chega alto
e respirante
chega súbito
e mortífero
vem como se acordasse de uma noite insone
vem como se não ousasse devastar o mínimo
e chega como um ponto no horizonte
chega como coice
chega como o riso que se ouve no escuro
é cascata
corredeira
rio que deságua no desespero
vem como se não houvesse mais jeito
último pedido
devaneio
vem para dilacerar
vem para mostrar
que não desapareceu
é nervo, sublima
mas é corda, que arrima
as paredes que não construí
vem chuva que lava
a tristeza que cai dos olhos
vem tarde para afastar
os olhos famintos e as tentativas de estasiamento
vem defender
a fina alheia segurança
a loucura era só sinal de fogo
não há mais carvão
e vem cinza
chega para mim topo
e chega para destruir
vem e traz desgosto
vem com arma, polígono de chumbo
faz vítima, matilha de choros
vem sangue
corre e não estanca
é face, é lira, é viga mas também é osso
é pote que carrega o ouro
é posse dividida
latifúndio sem dono
mesmo quando vem sol
e crista vida na sua terra
morre o cipó que não dá curva
perde a liga que lhe enverga
mia clara a sua fissura
e nem por ela pode passar.
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