quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Via crucis

Antes quando te via era regozijo
era sonho e era valsa
te via e era festa
era saldo
te via em sintonia
antes quando te tinha
era sombra e era gozo
era meu e era nojo
era vida e não sabia
andava em fantasia
esquecia meu nome
desvencilhava
os seus braços dos meus anseios
as suas marcas dos meus tropeços
antes não podia querer o depois
porque não te projetava em meu futuro
antes que te podia
não reparava em seus entalhes
feitos pelo tempo
feitos pelos restos de vontades
irrealizáveis, mortas, flácidas
trocando as cordas pelas pontes
não te via
antes que te continha
parecia não haver solidão
antes que te ouvia
até em pensamento estávamos caindo
mesmo quando a inércia dos nossos pedidos
faziam problemas virarem vultos
nos distanciamos
nos colocamos nos vértices
sua borda esqueceu dos pontos
minhas linhas transportaram outros recados
agora sou fã dos desarranjos
mas não mais vivo deles
agora sou o depois que não pensava
sou o nada que se continuou
sou proposta que nunca chega
e ainda tormento de madrugada
insone e calada
falo só para dentro
para acalmar as loucuras e os intentos
penso em arritmia
não sei concretizar essas maneiras
penso em várias direções, nenhuma toma reta
ando insatisfeita, não sei mais me dizer
nunca soube e achava que podia
não há antes no que se conserva em amor
pois este fermenta todas as coisas até elas serem outras
a ponto de se perderem em ranço doce
ou azedarem em vinagre frio
não há antes no que se conserva em confusão
tudo vai se tornando móvel
a polia que puxa as cordas se desgasta em tanto faz
as normas não mais encaixam
as forças não mais empurram
quem é que segura os nós
quando o demônio sai da caixa?

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